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Disrupção não é o único caminho para a inovação

Nos últimos anos, a abordagem da inovação tem sido amplamente debatida, especialmente no que se refere à disrupção. Na entrevista ao HBR IdeaCast, comandada por Curt Nickisch, Renee Mauborgne apresenta uma alternativa: a criação não disruptiva.

Pontos-chave (Key Insights):

  • Além da disrupção: A inovação não precisa destruir ou perturbar para criar valor. Renee propõe uma abordagem que promove crescimento sem deslocar indústrias, empresas ou empregos.
  • Exemplos de sucesso: Empresas como a Square demonstram que é possível criar novos mercados sem causar disrupção, expandindo o alcance econômico e social.
  • Impacto positivo e oportunidades: A criação não disruptiva não apenas fomenta lucros, mas também promove um impacto social positivo, redefinindo como as empresas podem inovar e crescer de forma sustentável.

Além da disrupção: Uma nova perspectiva sobre inovação

Renee Mauborgne, coautora de Beyond Disruption: Innovate and Achieve Growth Without Displacing Industries, Companies, or Jobs e professora de estratégia e gestão no INSEAD, onde codirige, junto com W. Chan Kim, o Blue Ocean Strategy Institute, apresenta uma visão ousada sobre inovação. Durante décadas, a ideia de disrupção foi amplamente adotada como o principal motor da inovação. Conceitos como a “destruição criativa” de Joseph Schumpeter estabeleceram a crença de que, para criar algo novo, era inevitável destruir o que já existia.

Porém, Mauborgne desafia essa visão. Ela argumenta que, embora a disrupção seja uma ferramenta válida, não é a única opção. Existem caminhos alternativos para o crescimento que não exigem o deslocamento de empresas ou trabalhadores. Esse paradigma, conhecido como criação não disruptiva, amplia o escopo da inovação, incentivando as empresas a buscar soluções que beneficiem tanto os negócios quanto a sociedade.

Essa abordagem visa transformar o modo como vemos a inovação. Em vez de competir por fatias de um mercado existente, as empresas podem identificar áreas inexploradas e criar novos mercados. Essa mentalidade não só evita o impacto negativo da disrupção, como também promove um crescimento sustentável e inclusivo.

De acordo com Mauborgne, enquanto a maioria das empresas começa a inovar a partir da realidade atual e busca soluções dentro do que é possível no momento, os criadores não disruptivos adotam uma estratégia diferente. Eles começam com a imaginação, pensando no que deveria ser, independentemente do que já existe. Isso os leva a levantar questões fundamentais e a reimaginar o que é possível, utilizando ferramentas e frameworks específicos para transformar essas ideias em ações concretas. Dessa forma, as empresas começam a pensar de forma radicalmente nova.

Exemplos de criação não disruptiva

Um exemplo emblemático dessa abordagem é a Square, cofundada por Jim McKelvey. A empresa surgiu de uma necessidade simples: permitir que pequenos comerciantes aceitassem pagamentos com cartão de crédito, algo inviável até então para negócios que movimentavam menos de US$ 10.000 por ano. Ao criar uma solução acessível e prática, a Square abriu um mercado completamente novo, trazendo benefícios para comerciantes e consumidores, sem prejudicar indústrias já estabelecidas.

A inovação da Square foi tão transformadora que gigantes como Visa e MasterCard a abraçaram, reconhecendo que estavam ganhando acesso a uma base de clientes que antes não utilizava seus serviços. Isso exemplifica como a criação não disruptiva pode gerar valor econômico enquanto amplia o acesso e as oportunidades.

Outros exemplos incluem o setor de microfinanças, que democratizou o acesso ao crédito em comunidades de baixa renda, e a 23andMe, que revolucionou os testes genéticos ao torná-los acessíveis e fáceis de usar. Ambas as inovações atenderam a necessidades não exploradas, criando mercados sem desestabilizar as indústrias existentes.

Impacto positivo e oportunidades inexploradas

Além dos benefícios econômicos, a criação não disruptiva traz impactos sociais significativos. Ao evitar o fechamento de empresas ou a perda de empregos, essa abordagem promove a estabilidade econômica e incentiva o desenvolvimento sustentável. Mauborgne destaca que essa forma de inovação é particularmente relevante em um mundo onde as crises econômicas e as desigualdades sociais estão em evidência.

Essa abordagem também oferece aos líderes empresariais um modelo estratégico para explorar oportunidades inexploradas. Em vez de se concentrar na competição por um espaço limitado, eles podem buscar soluções para problemas negligenciados, ampliando o impacto de seus negócios. Isso exige uma mudança de mentalidade, de uma visão de soma zero para uma abordagem de soma positiva, onde todos se beneficiam.

Renee Mauborgne enfatiza que a criação não disruptiva não significa evitar mudanças ou desafios. Pelo contrário, trata-se de identificar áreas onde a inovação pode florescer sem causar danos colaterais. Isso requer criatividade, visão estratégica e um compromisso com o impacto social positivo.

O futuro da inovação

A entrevista de Renee Mauborgne ao HBR IdeaCast convida líderes e organizações a repensarem suas abordagens à inovação. A disrupção não é a única forma de avançar; há oportunidades significativas em criar valor sem destruir. Empresas como a Square provaram que é possível crescer de maneira sustentável, beneficiando tanto o mercado quanto a sociedade.

Curt Nickisch, ao refletir sobre os dois tipos de inovação, “melhor, mais rápido, mais barato” e “um novo mundo corajoso”, aponta que a criação não disruptiva oferece exatamente esse “brave new world” que mais empresas podem buscar e se inspirar.

Ao ampliar o conceito de inovação, Mauborgne e W. Chan Kim oferecem uma perspectiva que pode moldar o futuro dos negócios, desafiando as normas estabelecidas e incentivando uma visão mais inclusiva e sustentável para a inovação

Para ouvir a entrevista completa, clique aqui.