Muitos investidores focam em tentar prever eventos macroeconômicos e ajustar seus portfólios com base nessas previsões. No entanto, o que realmente gera valor para os investidores ao longo do tempo? Howard Marks, um dos fundadores da Oaktree Capital Management, explora as questões que importam e aquelas que os investidores podem deixar de lado.
Pontos-chave (Key Insights):
- Previsões de curto prazo raramente trazem ganhos consistentes.
- A mentalidade de negociação frequente pode prejudicar o desempenho a longo prazo.
- Focar-se no desempenho a longo prazo e ignorar a volatilidade é a chave para o sucesso.
Os erros mais comuns
“A maior parte das previsões são extrapolações, e na maior parte dos casos não há alterações significativas, por isso as extrapolações estão geralmente corretas, mas não são muito rentáveis. Por outro lado, previsões corretas de alterações de uma tendência podem ser muito rentáveis, mas são difíceis de acertar”, resume o cofundador e copresidente da Oaktree Capital Management em um dos seus mais recentes memos, sempre muito aguardados.
Howard Marks, um dos mais reputados autores e analistas das últimas décadas, refere-se a um dos erros mais comuns entre os investidores, a obsessão em tentar prever eventos econômicos de curto prazo, como variações nas taxas de juros, inflação ou até mesmo recessões. Esses tópicos são frequentemente discutidos nos círculos financeiros, mas o autor afirma que tais previsões raramente produzem resultados úteis.
“A maioria dos investidores não consegue fazer previsões superiores sobre fenômenos de curto prazo”, destaca o autor. A tentativa de prever o que acontecerá no próximo ano ou trimestre acaba sendo mais uma especulação do que uma análise fundamentada.
Ele exemplifica isso com o período da crise financeira global de 2008, quando uma das grandes questões era sobre quando o Federal Reserve aumentaria as taxas de juros após anos de taxas de quase zero. Mesmo que alguém soubesse exatamente quando isso ocorreria, seria muito difícil ajustar um portfólio para maximizar os ganhos com base nessa previsão. “Por que isso importa?”, pergunta o autor. “A preocupação com o timing exato dos eventos de curto prazo raramente traz resultados concretos ou benefícios duradouros.” Os mercados são voláteis e são influenciados por uma série de fatores imprevisíveis, muitos dos quais estão fora do controle de qualquer investidor ou economista.
Mentalidade de Negociação
Outro erro comum que o autor menciona é a mentalidade de negociar ações com frequência na esperança de ganhos rápidos. Warren Buffett, um dos investidores mais respeitados do mundo, afirma que as ações devem ser vistas como partes de uma empresa, e não como oportunidades para especulação de curto prazo. No entanto, muitos investidores ainda tratam as ações como instrumentos de “trading”, comprando e vendendo com a expectativa de que o preço suba a curto prazo.
Estudos mostram que essa abordagem raramente é lucrativa. Um estudo do Instituto DALBAR de 2012 revelou que investidores individuais que tentam cronometrar o mercado, comprando e vendendo frequentemente, acabam por obter retornos significativamente inferiores aos dos índices de referência. “Em média, os investidores perdem três pontos percentuais por ano ao tentarem negociar frequentemente,” alerta Marks. Isso ocorre porque a tentativa de prever movimentos de curto prazo geralmente leva a especulações e decisões baseadas na emoção, em vez de fundamentos sólidos.
O autor usa uma piada curiosa para explicar essa mentalidade. Ele conta a história de duas pessoas que discutem sobre o preço de uma lata de sardinhas extremamente cara, e uma delas admite que as sardinhas não são para comer, mas para negociar. “Muitas pessoas tratam as ações como sardinhas de negociação e não como algo para possuir,” explica o autor. Assim como essas sardinhas nunca serão apreciadas pelo seu valor real, as ações que são compradas e vendidas rapidamente, raramente atingem seu verdadeiro potencial de crescimento. A lógica da negociação de curto prazo também é falha, pois presume que o investidor será capaz de vender as ações por um preço mais alto do que pagou, independentemente das condições do mercado. Como observa o copresidente da Oaktree Capital Management: “cada vez que uma ação é negociada, um lado está errado e o outro está certo.”
Essa mentalidade, de apostar nos movimentos de curto prazo, raramente favorece o investidor individual a longo prazo. No entanto, ainda é uma prática comum entre muitos participantes do mercado, que se deixam levar pela volatilidade diária dos preços das ações.
Em um cenário de investimento, a performance de curto prazo pode apresentar uma visão distorcida dos resultados, especialmente durante períodos de alta. Fatores como agressividade, timing e habilidade são essenciais para obter ganhos superiores em boas condições de mercado: “Na verdade”, diz Marks, “eventos aleatórios podem ter um impacto esmagador nos retornos — em qualquer direção — em um trimestre ou ano específico”. Ele ressalta que, apesar de retornos elevados serem frequentemente atribuídos a uma estratégia agressiva, isso não indica necessariamente uma habilidade especial do investidor, já que muitos fatores externos e aleatórios podem influenciar os resultados.
Além disso, critica a prática comum de avaliar decisões e habilidades de investimento com base apenas no curto prazo, porque “a qualidade de uma decisão não pode ser determinada apenas pelo resultado.” Decisões bem fundamentadas podem levar a resultados negativos devido a informações ocultas e eventos imprevisíveis. Portanto, é mais eficaz analisar a performance ao longo de um período mais extenso para obter uma visão mais precisa das habilidades do investidor. Apesar disso, muitos comitês de investimento ainda se concentram excessivamente nos desempenhos trimestrais, frequentemente sem ações significativas resultantes dessa análise.
Não se importe com a volatilidade
A volatilidade é frequentemente vista como sinônimo de risco nos mercados financeiros, mas o autor argumenta que isso é um erro. “Volatilidade não é risco,” diz ele. O verdadeiro risco está na possibilidade de um resultado negativo, como a falência de uma empresa ou o descumprimento de um título de dívida. A volatilidade de curto prazo, por outro lado, pode até ser uma oportunidade para os investidores mais pacientes e disciplinados.
Nos mercados de títulos, por exemplo, a volatilidade pode ser benéfica, uma vez que permite ao investidor reinvestir os pagamentos de juros a taxas mais altas, aumentando o retorno ao longo do tempo. “A volatilidade negativa dos preços que tantos temem é, na verdade, uma coisa boa – desde que não prenuncie inadimplências,” afirma o autor.
Contudo, muitos gestores de fundos têm uma obsessão em minimizar a volatilidade, o que acaba sacrificando retornos a longo prazo. Um exemplo disso é o desempenho de hedge funds, que têm sido atraentes para investidores institucionais por oferecerem baixa volatilidade, mas com retornos modestos. “Ao longo dos últimos 18 anos, a maior parte dos hedge funds conseguiu uma baixa volatilidade, mas com retornos modestos, de apenas um dígito” – observa o autor. Isso significa que, ao tentar evitar flutuações de curto prazo, esses fundos acabaram perdendo oportunidades de gerar retornos mais expressivos.
Finalmente, e para terminar a lista de erros comuns enunciada pelo autor, o excesso de trading: “quando era um rapaz, existia um ditado popular que dizia: não fique aqui sentado, faça alguma coisa. Mas para investir, deveríamos inverter a frase: não faça nada, espere sentado”. Marks conclui, com mais uma história bem reveladora do seu pensamento, ao citar um estudo da Fidelity sobre os investidores com melhores rentabilidades entre 2003 e 2013: os falecidos cujos bens ficaram aguardando distribuição pelos herdeiros ou os que mudaram de emprego e se esqueceram de um antigo plano de pensões (401k, nos Estados Unidos), que continuou valorizando.
O que Realmente Importa: Focar no Longo Prazo
Se eventos de curto prazo, a negociação frequente e a volatilidade não são os fatores mais importantes, então o que deveria ser o foco dos investidores? O autor é claro: “O que realmente importa é o desempenho dos seus investimentos ao longo dos próximos cinco a dez anos.” Adotar uma visão de longo prazo permite que os investidores evitem erros emocionais e as oscilações momentâneas do mercado, concentrando-se no crescimento sustentável.
Investir no longo prazo significa enxergar as ações como partes de empresas com potencial de crescimento, e não como instrumentos para especulação de preços. Evitar a tentação de negociar frequentemente e manter o foco em empresas com bons fundamentos é a melhor forma de aproveitar os benefícios dos juros compostos e do crescimento sustentável. “A longo prazo, o mercado é uma máquina de pesagem,” lembra neste seu memorando, citando o investidor lendário Ben Graham.
Howard Marks considera que o sucesso no mercado financeiro não vem de tentar adivinhar o que acontecerá no próximo trimestre, mas de escolher bons ativos e mantê-los durante anos, permitindo que as suas qualidades intrínsecas se manifestem. O poder do longo prazo está em não se deixar levar pelas flutuações diárias ou mensais, mas sim em confiar no crescimento consistente e sustentável. Por isso, os investidores deviam:
- Estudar empresas e valores mobiliários, avaliando aspectos como seu potencial de lucro;
- Comprar aqueles que podem ser adquiridos a preços atraentes em relação ao seu potencial;
- Manter os investimentos enquanto a perspectiva de lucro da empresa e a atratividade do preço permanecerem intactas; e
- Fazer mudanças apenas quando esses aspectos não puderem ser reconfirmados, ou quando algo melhor surgir.
O Princípio da Assimetria
Um conceito fundamental que o autor analisa é o da “assimetria”. A assimetria refere-se à capacidade de um investidor gerar retornos maiores em mercados favoráveis e minimizar as perdas em momentos desfavoráveis. Investidores que dominam este princípio conseguem obter mais ganhos do que perdas ao longo do tempo, o que lhes permite superar consistentemente o mercado.
Para o fundador da Oaktree Capital Management, a assimetria existe, por exemplo, quando o investidor consegue: “ganhar mais dinheiro em mercados bons do que perder em mercados ruins, ter mais vencedores do que perdedores, ganhar mais dinheiro com seus vencedores do que perder com seus perdedores, ir bem quando seu viés agressivo ou defensivo se mostra oportuno, mas não ir mal quando não é, ir bem quando seu setor ou estratégia estão em alta, mas não ir mal quando não estão, e construir portfólios de forma que a maioria das surpresas seja positiva”.
Apresentando vários exemplos de bons e maus gestores, em função dos resultados alcançados em mercados em alta e em baixa, Howard Marks defende que a excelência aparece quando há um desempenho de qualidade tanto em mercados bons quanto ruins. Num dos casos apresentados, o gestor “não tem um viés de agressividade/ defensividade, pois seu desempenho é excepcional em ambos os mercados. Seu alfa é suficiente para permitir que ele vá contra a tendência e obtenha um retorno positivo em um ano ruim”. Nestes casos, conclui Marks com humor, caso descubra um gestor como este, aconselha “investir muito dinheiro com ele” e “me enviar o seu número”.
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